Caso Suzane Von Richtofen. Caso Isabella Nardoni. Estes foram alguns dos crimes brasileiros mais famosos e que mais causaram comoção nacional por conta da participação direta da imprensa seja fazendo coberturas interrompendo toda a programação ou em programas em que os apresentadores entrevistam familiares das vítimas e psicólogos para definir o perfil dos assassinos. Como formadora de opinião, a mídia fez com que a população tomasse partido do âncora de telejornal ou do apresentador do programa de variedades e condenasse os possíveis suspeitos antes mesmo da elucidação dos casos.
Explorando essa relação em que a imprensa sensacionalista faz com o público, Gillian Flynn, crítica de televisão da Entertainment Weekly, escreveu o best-seller Garota Exemplar/Gone Girl, que vendeu seis milhões de exemplares em todo o mundo, ficando atrás apenas da trilogia “BDSM água com açúcar” Cinquenta Tons de Cinza.

As buscas se avançam. No entanto, a falta de informações e a aparente desconsideração de Nick pelo caso fazem com que a mídia crucifique-o e considere que ele é o principal suspeito do desaparecimento de Amy. Garota brilhante, linda e inteligente, boa moça, esposa dedicada ao marido, por que Nick iria fazer isto com ela? Será que o casal era feliz em seu matrimônio? O que há por trás disso tudo?
A adaptação cinematográfica da obra fica a cargo do diretor David Fincher, que resgatou o tino para a direção desde a versão americana de Os homens que não amavam as mulheres. A trama é roteirizada pela própria Gillian Flynn, que juntamente a Fincher prendem o espectador a cada segundo com uma atmosfera densa e mistério ao mostrar o íntimo de cada personagem, equilibrando nos três atos da trama a visão de cada um. Aos poucos, o diretor e roteirista vão fazendo com que as máscaras dos personagens caiam, revelando o que há por trás do casamento de Amy e Nick.
Ben Affleck passa firmeza ao interpretar o marido canalha que despreza, maltrata e trai a esposa cheia de predicados. Sempre achei que Ben tinha uma única expressão em todos os filmes em que ele fez que era a de “maior abandonado” e dessa vez combinou com o personagem que se mostrava um verdadeiro panaca e escroto no início da trama e que depois não sabia que rumo tomar para sair da situação em que se encontrava.
Mas a melhor atuação no filme e acredito que também soube envolver o espectador é Rosamund Pike. A atriz estava primorosa como a esposa exemplar que, aos poucos, mostrou um caráter dúbio. Manipuladora, fria e calculista, Amy maneja a todos que a cerca como meros fantoches. Com sua aparência angelical, Amy se mostra exemplar ao mostrar a face de boa esposa aos moradores da cidadezinha onde mora e para o espectador, fazendo com que homens e mulheres tomem partido dela e que Nick seja condenado à morte.
Destaque também para as atrizes Kim Dickens e Carrie Coon que interpretaram a detetive Rhonda e a irmã de Nick, Margo. Kim defendeu muito bem a detetive sarcástica e raivosa que queria resolver logo o caso, mas acreditava que havia algo errado em toda aquela situação. Carrie esteve bem como a irmã gêmea que também era o porto seguro de Nick. Não apenas para dar conselhos a Nick, mas também para ajudá-lo a mudar sua imagem perante a imprensa.
Outro destaque vai para o ator Neil Patrick Harris, que mesmo aparecendo pouco na trama como o antigo namorado obcecado por Amy, Desi Collings, que tinha mania de poder e achava que tinha Amy em suas mãos, que contribuiu para o desenrolar da trama como um personagem complexo, diferente das comédias que fez.
A fotografia do filme ficou a cargo de Jeff Cronenweth, parceiro de Fincher desde Clube da Luta que abusa de tons escuros e imagens parecidas com as de videoclipes. Percebe-se que, quando Nick aparece há tons de azul e cinza nas cenas, deixando o clima mais gélido e nos flashbacks de Amy são utilizados tons um pouco mais quentes como o amarelo. A trilha sonora fica por conta de Trent Reznor do Nine Inch Nails e de Atticus Ross que trabalharam com Fincher em A Rede Social e Millenium. Reznor e Ross compuseram trilhas que ajudaram a compor o clima de suspense, mistério e tragédia em determinadas situações.
Fincher soube prender e envolver o espectador de forma inteligente. Acredito que Garota Exemplar deu uma restaurada na carreira do diretor depois dos fracos A Rede Social e Millenium. Garota Exemplar é, sem dúvida, um dos maiores filmes do diretor.

Moça, não conheço você. Mas sua crítica foi excelente.
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