sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Crítica | Diana: Naomi Watts sai isenta

por Victor Hugo Furtado

Em Diana, o também diretor do polêmico A Queda (2004), Oliver Hirschbiegel, se dá gratuitamente à ingrata missão de adaptar para o cinema o mais romântico do que biográfico livro, Diana: Her Last Love, no mais novo longa que remexe parte do contexto histórico e influente da monarquia britânica.

Mesmo com uma performance interessante de Naomi Watts, a proposta não ajuda, Diana narra os acontecimentos que cercaram os dois últimos anos da vida da mulher mais famosa do séc. XX e uma das mulheres mais famosas da história mundial moderna, basicamente desde sua separação até sua morte. 

Acompanhamos Diana já separada do Príncipe Charles, após sua indiscrição no caso extraconjugal com Camilla Parker. Ainda morando numa ala do Palácio de Buckingham, Diana é o retrato da falta de dignidade, até conhecer e se apaixonar perdidamente pelo cirurgião paquistanês Dr. Hasnat Kahn, interpretado por Naveen Andrews, da série Lost. Que estranhamente não parece nem um pouco agradável para cativar o amor de uma então Princesa. 
 

Mesmo pecando em não citar a talvez mais íntima das amigas da princesa, Lucia Flecha de Lima, ainda hoje esposa do diplomata brasileiro, Paulo Tarso Flecha de Lima, a proposta de Diana é desmistificar a figura frágil, e mostrar a mulher por trás da fachada irretocável de Lady Di, que necessita de um ombro amigo, de carinho e atenção, no qual o filme ganha uma estrelinha. 
 
A começar pelo grande afeto da protagonista pelo homem que escolheria para substituir seu casamento fracassado. O “maior abandonado” e cheio de vícios (como cigarros, bebida e fast food), parece viver exclusivamente para si mesmo, e para seu trabalho, não conseguindo suportar a pressão de se relacionar com uma figura pública. 

Esse é o assunto principal de Diana, o romance com o médico, fato que de certa maneira diminui a importância da pseudo-biografia da lendária Princesa. Afinal esperamos um aspecto mais grandioso de sua vida do que pequenos relacionamentos, mesmo que caracterizados como “o maior amor da vida”.

Diana é um filme correto, mas no máximo bom e que não é elevado além de qualquer outro filme. Dados seus problemas de roteiro, Naomi Watts sai isenta de um longa que não agradou a todos. Mesmo não sendo o exemplo de sósia da “princesa do povo”, Watts consegue simular trejeitos, expressões peculiares e se sair bem naquilo que é mais criticado em filmes USA/ENG, o sotaque. 

Pra quem simpatiza com a figura mítica da princesa, responsável por criar um elo eterno da então poderosa monarquia intocável com as mãos literalmente palpáveis da plebe, Diana é um bom filme a ser visto, até por uma questão de conhecimento.

sábado, 12 de outubro de 2013

Crítica | Gravidade: A imensidão silenciosa do universo

por Victor Hugo Furtado

Exibido nos festivais de Veneza (Itália) e Toronto (Canadá) neste ano, não é difícil entender o porquê do sucesso de crítica e bilheteria de Gravidade, que aliado a tecnologia IMAX, proporciona uma experiência semelhante à de Star Trek – Into Darkness (2013), tirando o expectador da poltrona sempre que possível.

Fazendo trabalhos de praxe, os astronautas Dra. Ryan (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney) são avisados de que a colisão de um míssil e um telescópio russo gerou uma onda de destroços na atmosfera, os astronautas se apressam para retornar à nave, sem tempo, não obtêm êxito.

É desse momento em diante, que o maior vilão do filme se apresenta aos personagens, a imensidão silenciosa do universo, que se coloca como antagonista daí por diante. Lançada à deriva, Sandra Bullock encarna o desespero de sua personagem com perfeição, girando pelo infinito sem controle do corpo e sem ter ao que agarrar-se.

Com ela, quem gira também somos nós, que auxiliados pelo efeito 3D-IMAX, sentimos a distância da Terra, vista do espaço. Por mais que a situação seja desastrosa, recheado de planos sequência e seguidos sustos, a câmera se torna amiga do silêncio espacial para vagarosamente adentrar o capacete da astronauta e mostrar sua visão. 

Escrito por pelo talentoso diretor mexicano, Alfonso Cuarón, junto ao seu filho Jonás, tem roteiro justo, fazendo uso de uma história que talvez engane os leigos por se tratar de uma trama “espacial”, se caracterizando como mais simples impossível  ilustrando um comparativo da relação ser humano com o que ele mais teme, a solidão e a falta de respostas.

Com ótimas cenas, e um papel digno de uma grande atriz, o filme prende o expectador, não cardíaco, por mais de uma hora e meia, com apenas uma personagem e sua mente fantasiosa e reprimida por traumas, sem cansá-lo. Gravidade é mais um dos ótimos filmes que tem o espaço como zona de conforto nesse ano de 2013, e também mais um filme, que arranca os nervos apaixonados pelo cinema. 

sábado, 5 de outubro de 2013

Mecânica Clássica | O Gabinete do Dr. Caligari: loucura e charlatanice

por Dáphine Ponte

O expressionismo alemão foi um estilo cinematográfico que surgiu nos anos 1920, sendo caracterizado pelas distorções em seus cenários e personagens, através da maquiagem e da fotografia.

Alcançou seu auge com o suspense O gabinete do Dr. Caligari / Das Cabinet des Dr. Caligari (1920), do cineasta alemão Robert Wiene. O filme se inicia com dois homens conversando em um ambiente obscuro, parecendo uma floresta. Um deles, o mais velho, fala que perdeu a família e o lar onde morava.

O outro, que se chama Francis, diz que tem uma história pior. A partir daí, começa a narração do homem em forma de flashback. O lugar se chama Hostenwall e vemos um velho, Dr. Caligari, ir à administração, pedir autorização para apresentar seu show na feira da vila, com Cesare, a quem afirma estar dormindo por 23 anos. O homem que atende Dr. Caligari é rude com este e pede para outro funcionário atendê-lo.

Antes de a feira se iniciar, Dr. Caligari divulga seu show aos moradores da vila, afirmando que Cesare é um sonâmbulo que prevê o futuro e convida a todos para assistirem a apresentação. À noite, o funcionário que destratou Caligari é encontrado morto pela polícia.

No dia do show, Francis e seu amigo Alan comparecem à apresentação do Dr. Caligari. Alan pergunta a Cesare quando será a sua morte. Este responde que Alan irá viver apenas até a manhã seguinte. Na manhã seguinte, uma vizinha conta a Francis que seu amigo morreu e com isso, passa a investigar os assassinatos.

Quando Cesare tenta matar a paixão platônica de Francis, Jane, este descobre que o Dr. Caligari mantém Cesare sob estado de hipnose, fazendo-o cometer os assassinatos. Após a descoberta, Dr. Caligari é internado em um hospital psiquiátrico até a morte.

Volta à cena inicial com Francis terminando de contar a história. Os dois saem andando e chegam até ao pátio do hospital psiquiátrico que foi mostrado. Pode-se ver Cesare e Jane como internos do sanatório e logo depois, aparece o Dr. Caligari, que na verdade, é o diretor da instituição. Francis surta ao vê-lo e os enfermeiros o colocam em sua cela, mostrando quem realmente está doente e que toda aquela situação foi fruto de desordem mental. 

Pode-se perceber claramente na trama, as características do expressionismo alemão, como os cenários da vila e do sanatório distorcidos, como se fossem cenários de sonhos ruins. Há personagens caricatos, como o Dr. Caligari e Cesare. A maquiagem, principalmente na região dos olhos, também ajuda a enfatizar as expressões faciais das personagens em momentos de tensão. E a trilha sonora contribui ainda mais para tornar a atmosfera do filme mais densa e assustadora.

Confesso que deveria ter visto esse O gabinete do Dr. Caligari há mais tempo, mas não sou muito fã de filmes de terror. Fico apavorada em diversas cenas, mas com este filme foi diferente. Com o desenrolar da trama, eu estava intrigada com o que poderia acontecer se Cesare iria cometer mais assassinatos a mando de Dr. Caligari ou denunciá-lo pelo que fez.