sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Crítica | Flores Raras: Tropeços não conseguem estragar esta incrível obra de Barreto

por Victor Hugo Furtado

Adaptado do livro de Carmem Lucia de Oliveira, Flores Raras e Banalíssimas, e dirigido pelo grande cineasta brasileiro Bruno Barreto, Flores Raras conta o romance baseado em uma história real, da arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares, interpretada pela atriz que dispensa apresentação, Gloria Pires, com a famosa poetisa norte-americana Elizabeth Bishop, interpretada pela famosa atriz australiana, Miranda Otto.

Elizabeth Bishop foi uma recatada poetisa americana, que acumulou prêmios - entre eles o Pulitzer - e reconhecimento do público e da crítica e que passou um marcante período da sua vida no Brasil. É justamente durante essa época, que se passa o filme.

A obra de Barreto se propõe então, mostrar o processo criativo das "artistas", bem como as cenas onde seus trabalhos mais famosos são apresentados ainda em formação, mas o roteiro estabelece um prelúdio inicial, a escritora se sente incompleta, “um poema inacabado” como bem diz.

Então, decide ir visitar a amiga de faculdade, em busca de novos ares e alguma fonte de alegria que perdeu com o tempo. É no inspirador cenário de Petrópolis, Rio de Janeiro, que ela conhece Lota, uma arquiteta autodidata que comanda com pulso firme os seus funcionários e mulher por quem Elizabeth logo se apaixona.



Flores Raras tem em sua síntese duas intenções. A primeira, e mais óbvia, é a de contar a história de amor homossexual entre duas mulheres e nesse aspecto o filme se sai bem. A segunda, e igualmente interessante, é a forma como o roteiro usa os períodos da história de amor para traçar um paralelo sobre a visão estrangeira do Brasil, que sofria dos anos de promessas de um futuro brilhante.

Desenvolvendo as personagens de forma tranquila e apaixonante, a ponto de nos fazer sentir como se conhecêssemos estas mulheres há anos, é fácil escolher adjetivos para descrevê-las. Elizabeth, que sofre de todos os negativismo existentes, encontra em Lota seu porto seguro, pois a arquiteta é forte, decidida, dominadora e independente, evidenciando um relacionamento entre elas, ao mesmo tempo, improvável e inevitável e real.

Distinguindo-se fortemente em relação a suas personalidades, a capacidade que cada uma tem de enfrentar perdas se mostra surpreendentemente diferente do que seria de se esperar. Aquela que é se mostra forte, cai por terra, enquanto aquela que mal consegue enfrentar o dia a dia, fica de pé.

Para que estas complexas personagens criem vida nas telas, o filme conta com atuações maravilhosas de Gloria Pires e Miranda Otto, que se entregam a seus papéis. A fotografia e o figurino do filme também são de se admirar ao nos transportar para o Rio e a Nova Iorque dos anos dourados.

Sim, o filme, também apresenta seus tropeços. Há algumas incongruências históricas, já que há trabalhos de Lota pelos quais, no filme, temos a impressão de ela ter sido a única responsável, quando, na verdade, sabemos que ela foi apenas co-realizadora.

Porém, estes pequenos deslizes não são nada que possa estragar esta incrível obra de Bruno Barreto. Desde já um de seus melhores trabalhos, contando com performances que ainda devem render muitos prêmios a suas protagonistas. Vale a pena conferir.

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