sábado, 17 de agosto de 2013

Crítica | “Cine Holliúdy”: Jeito irreverente do cearense de contar a paixão pelo cinema

por Dáphine Ponte

Olá, Cinéfilos! O filme que vou falar nesse post é a mais nova sensação do cinema cearense: Cine Holliúdy. Em sua primeira semana de estreia nos cinemas de Fortaleza e do interior do estado, o filme teve a 8ª maior bilheteria do país (foram distribuídas apenas nove cópias), e bateu a marca de Wolverine – Imortal, levando quase 40 mil pessoas ao cinema.

Cine Holliúdy foi inspirado no curta-metragem Cine Holliúdy – O astista contra o caba do mal do mesmo cineasta, o cearense Halder Gomes, que coproduziu o filme Bezerra de Menezes – O diário de um espírito (2008) e dirigiu As mães de Chico Xavier (2011).

É o primeiro filme brasileiro a ter legendas em português, pois é falado em cearês, contendo expressões bem típicas da terra, como “fulerage” que significa algo que não presta, “Do tempo que o King Kong era soim” que quer dizer que algo é muito antigo e “Caba” que é a mesma coisa que sujeito.

Considerado o “Cinema Paradiso” do Ceará, a trama se passa na cidade de Pacatuba, durante a década de 1970, retratando as exibições mambembes de cinema pela figura do personagem principal que tem o nome bem ao estilo cearense, o sonhador e brincalhão Francisgleydisson (interpretado pelo ator e instrutor de artes marciais cearense, Edmilson Filho) e sua família representada bondosa e valente esposa, Maria das Graças, vivida pela atriz Miriam Freeland, e Francisgleydisson Filho, seu pequeno filho de mente fértil e que acredita em tudo o que pai diz.



O trio parte da cidade de Parambu para Pacatuba a fim de ter sucesso com a abertura de uma sala de cinema na cidade, em uma época que se começava a popularização da TV. Quando chegam à cidade, vem as dificuldades como nas outras vezes que tentaram exibir filmes nas outras cidades.

Porém, Francisgleydisson consegue reverter a situação a seu favor e constrói sua sala de cinema, que tem o mesmo nome do filme, para a primeira exibição de um filme asiático, fazendo com que todos os moradores da cidade compareçam, como prefeito e a primeira-dama, o cego bruto (vivido pelo comediante Falcão) e o menino Valdisney (a escrita correta é Walt Disney) que tem paixão por cinema.

Cine Holliúdy faz alusão aos clássicos do gênero de artes marciais. Isso não está presente apenas nos filmes exibidos no Cine Holliúdy, mas também na imaginação das crianças Francisgleydisson Filho e Valdisney, que vivem imersos em uma fantasia regada a kung-fu.

Percebe-se que, em muitos dos cenários, há a predominância da cor azul, seja nas casas dos moradores, no gabinete do prefeito ou no Cine Holliúdy. Também pode ser percebido a presença de vários objetos que indiquem a época da trama, desde as roupas dos personagens, como as camisas de estampas extravagantes, as calças boca-de-sino que os homens usam às garrafas do antigo refrigerante Crush e aos carros que aparecem em cena. Até a trilha sonora contém músicas de artistas famosos na época como Odair José e Márcio Greyck.

Assisti ao filme esta semana nos cinemas e posso dizer que gostei muito e achei a trama leve, divertida, fazendo com que todos riam, do começo ao fim, seja pelo vasto vocabulário cearês ou pelas situações em que os personagens se encontram. Recomendo a toda a família!

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Crítica | Flores Raras: Tropeços não conseguem estragar esta incrível obra de Barreto

por Victor Hugo Furtado

Adaptado do livro de Carmem Lucia de Oliveira, Flores Raras e Banalíssimas, e dirigido pelo grande cineasta brasileiro Bruno Barreto, Flores Raras conta o romance baseado em uma história real, da arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares, interpretada pela atriz que dispensa apresentação, Gloria Pires, com a famosa poetisa norte-americana Elizabeth Bishop, interpretada pela famosa atriz australiana, Miranda Otto.

Elizabeth Bishop foi uma recatada poetisa americana, que acumulou prêmios - entre eles o Pulitzer - e reconhecimento do público e da crítica e que passou um marcante período da sua vida no Brasil. É justamente durante essa época, que se passa o filme.

A obra de Barreto se propõe então, mostrar o processo criativo das "artistas", bem como as cenas onde seus trabalhos mais famosos são apresentados ainda em formação, mas o roteiro estabelece um prelúdio inicial, a escritora se sente incompleta, “um poema inacabado” como bem diz.

Então, decide ir visitar a amiga de faculdade, em busca de novos ares e alguma fonte de alegria que perdeu com o tempo. É no inspirador cenário de Petrópolis, Rio de Janeiro, que ela conhece Lota, uma arquiteta autodidata que comanda com pulso firme os seus funcionários e mulher por quem Elizabeth logo se apaixona.



Flores Raras tem em sua síntese duas intenções. A primeira, e mais óbvia, é a de contar a história de amor homossexual entre duas mulheres e nesse aspecto o filme se sai bem. A segunda, e igualmente interessante, é a forma como o roteiro usa os períodos da história de amor para traçar um paralelo sobre a visão estrangeira do Brasil, que sofria dos anos de promessas de um futuro brilhante.

Desenvolvendo as personagens de forma tranquila e apaixonante, a ponto de nos fazer sentir como se conhecêssemos estas mulheres há anos, é fácil escolher adjetivos para descrevê-las. Elizabeth, que sofre de todos os negativismo existentes, encontra em Lota seu porto seguro, pois a arquiteta é forte, decidida, dominadora e independente, evidenciando um relacionamento entre elas, ao mesmo tempo, improvável e inevitável e real.

Distinguindo-se fortemente em relação a suas personalidades, a capacidade que cada uma tem de enfrentar perdas se mostra surpreendentemente diferente do que seria de se esperar. Aquela que é se mostra forte, cai por terra, enquanto aquela que mal consegue enfrentar o dia a dia, fica de pé.

Para que estas complexas personagens criem vida nas telas, o filme conta com atuações maravilhosas de Gloria Pires e Miranda Otto, que se entregam a seus papéis. A fotografia e o figurino do filme também são de se admirar ao nos transportar para o Rio e a Nova Iorque dos anos dourados.

Sim, o filme, também apresenta seus tropeços. Há algumas incongruências históricas, já que há trabalhos de Lota pelos quais, no filme, temos a impressão de ela ter sido a única responsável, quando, na verdade, sabemos que ela foi apenas co-realizadora.

Porém, estes pequenos deslizes não são nada que possa estragar esta incrível obra de Bruno Barreto. Desde já um de seus melhores trabalhos, contando com performances que ainda devem render muitos prêmios a suas protagonistas. Vale a pena conferir.

sábado, 10 de agosto de 2013

Crítica | Círculo de Fogo: Referências saltam aos olhos levando o nerd à loucura

por Victor Hugo Furtado

Cheio de referências, Circulo de fogo é o filme perfeito para todo garoto que teve a sorte de ter uma ótima infância, criado vendo “Jaspion” e principalmente “Power Rangers”.

O filme que talvez fuja um pouco do jeito Guillermo Del Toro de fazer filmes, que se caracterizou pelo uso da maquiagem mais até do que efeitos especiais, não peca na hora de introduzir uma ameaça estilo Godzilla, e o essencial, máquinas que possam combatê-la.

Os primeiros momentos da trama já conseguem levar o êxtase os nerds e geeks (nunca vou saber a diferença, sempre me denominei nerd) presentes na sala de cinema. E é apenas um prelúdio  da “quebradêra” que se segue ao longo da história. Pancadaria que começa no mar se arrasta até a cidade e pasmem, tem fim no espaço.

O roteiro é simples e competente, digno dos roteiros de Power Ranger, complicações ficam por conta dos nomes das ameaças, todos os aspectos do filme atingem e, em certos pontos superam, as expectativas, como os efeitos visuais, belíssimos.



Os acontecimentos fluem naturalmente, de maneira como Del toro mesmo disse, preferir não se apegar a explicações, gerando surpresa nos momentos de referencia, como por exemplo quando é dada a ordem de pressionar um botão (soco foguete) e termina com a alegria de um soco bem dado na cara de Kaiju, de uma forma tão empolgante que nem sentimos passar as duas horas de filme.

O elenco é simples e carismático, Idris Elba faz uma de suas melhores atuações. A dupla, Charlie Hunnam e Rinko Kikuchi, não ficam atrás e a conexão natural entre os dois é visível e o alívio cômico está bem presente, mas na dosagem certa e em momentos certos.

Fiquem tranquilos, pois os Jaegers, como são chamadas as máquinas criadas pelos humanos,  não são iguais aos transformers, eles são pesados e lentos, o que torna legal, pois já sai em desvantagem. É possível ter a sensação de peso de cada passo dos robôs.  Já os Kaijus, são um pouco mais ágeis e por vezes um pouco maiores que o esperado.

Vale a pena conferir esse baita filme de ficção cientifica, que esbanja referencias que saltam aos olhos de um ótimo diretor de cinema.  Se quando criança você, assim como eu, enlouquecia em frente a TV vendo séries como Jaspion, Jiraya, Ultraman, Espectroman e Power Rangers, não deixe de ir ao cinema, pois esse filme é essencial no que diz respeito a fidelidade de gênero.