sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Crítica | O Tempo e o Vento: Foi um choque

por Victor Hugo Furtado

Foi um choque. Foi a uma sessão que eu gostei de denominar como: “A Sessão da primeira Vez”. Ao entrar na sala de cinema por volta das 16h30min – em cima da hora porque Elysium atrasou – e pela primeira vez, ver a sala completamente LOTADA em uma sessão de filme nacional que não se tratava de comédia, muito pelo contrário, de um drama com legítimas facadas no peito de qualquer gaúcho que nutre um pouquinho de amor pelo seu estado.

Quem tem por hábito ir ao cinema com frequência, entende quando eu digo que percebemos de longe no rosto do cidadão, quando ele está indo pela primeira vez. Mas de novo, pela primeira vez eu vi tantas pessoas indo pela primeira vez no cinema.

Como tradicionalmente nos dias 20 de setembro, as manhãs pertencem aos desfiles farroupilhas, todos devidamente trajados, a maioria nem passou em casa para trocar de roupa.

O que deu ares de sessão de estreia de franquias como Star Trek e Star Wars em qualquer cinema de esquina nos EUA, porque 95% da sala de cinema estava, como em bom gauchês, rigorosamente “pilchada”, nivelando com a San Diego Comic-Con.

E não somente contentes em estar trajados, ainda cheiravam a churrasco, e mais! por volta de 77,6% das poltronas possuía seu próprio mate, o que transformou a sala de cinema na maior roda de chimarrão que eu vi na minha vida.

Em menos de cinco minutos naquele espaço, eu já esperava grandes feitos na tela e diversas pontadas no coração. Como falar de um longa que te faz chorar não menos que dez vezes ao longo da exibição? Foi a primeira vez que eu não quis ser gaúcho, pra então ter a oportunidade de ver esse filme como qualquer outro, que nitidamente sofre com problemas de planos e figurinos repetidos, mas que se tornam figuras menores em meio ao contexto.

Ao estilo Monjardim, a história romântica, de paisagens invejáveis e atores de um calibre único, transcorre ao natural na voz de Bibiana (Fernanda Montenegro). Com fidelidade a obra de Erico Veríssimo, a saga dos Terra-Cambará funciona mais do que bem nas duas horas de sessão. E o roteiro, que ficou com os gaúchos Tabajara Ruas ("Netto Perde Sua Alma") e Leticia Wierzchowski ("A Casa das Sete Mulheres"), saiu melhor do que o esperado.

Thiago Lacerda está não menos do que perfeito como Capitão Rodrigo, que em cada sorriso arranca olhares e suspiros, encarnando o que Érico Veríssimo sempre quis, transformar o estado do Rio Grande do Sul em uma pessoa, de múltiplas funções, muitas faces, mas acima de tudo um ser humano, pois possui por predominância, defeitos. As sequencias em que contracena com Fernanda Montenegro são emocionantes.

Muito bem caracterizado e "Juvenalizado", está o ator Cris Pereira, mais conhecido nas redondezas pelo personagem, Jorge da Borracharia, que diga-se, pois é pouco lembrado, é o primeiro habitante de Santa Fé, a simpatizar e ver um homem bom e acima de tudo, um amigo no então desconhecido forasteiro Rodrigo Cambará, mesmo antes de sua irmã Bibiana.

Também estão no elenco, nomes como: Cesar Troncoso e Cléo Pires, além dos gaúchos Zé Adão Barbosa, Elisa Volpatto e Leonardo Machado. O premiado Marat Descartes (Kikito de Melhor Ator no Festival de Gramado 2012 por "Super Nada") faz o papel de Licurgo. Questões como honra e paixão perpassam toda a trama. É um drama de personagens marcantes e diálogos afiados.

O Tempo e o Vento estréia na próxima sexta, dia 27, em todo o Brasil, deve ser visto pelo brasileiro, pois se trata de um dos maiores clássico da literatura brasileira. E obrigatoriamente deve ser visto por gaúchos, tanto prós-cultura gaúcha, tanto contras, pois o Tempo e o Vento é fiel ao contar a história do estado mesmo dadas as proporções de uma paixão.

A grande verdade é que O Tempo e o Vento de Jayme Monjardim é um legítimo chute na cara – ao melhor estilo Rodrigo Cambará - de nós, críticos, desmistificadores e pesquisadores que tentam desde os primórdios, entender o porque desse amor inexplicável por uma guerra que a maioria não sabe em porque começou.

E o pior, é que esse amor, nítido em cada lágrima, de cada idoso, de cada criança, na saída daquela sessão, obviamente ainda vai piorar e aumentar a cada década, a cada século, como a própria Bibiana Terra diz, enquanto o vento levar o tempo.


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